Desde a publicação da LGPD, muito se falou dos riscos e ameaças para as empresas. Eu, particularmente, recebi – e sigo recebendo – algumas centenas de e-mails ameaçadores falando em multas, condenações judiciais e ataques cibernéticos. Na maior parte deles, ironicamente, os remetentes violam a lei que prometem ajudar a cumprir.

Hoje, resolvi escrever um pouco não sobre os riscos, mas sobre os benefícios decorrentes da adequação à LGPD. Após coordenar algumas dezenas de projetos de organizações dos mais variados portes e segmentos, posso dizer, sem medo de errar, que ter um bom programa de proteção de dados e privacidade vale a pena. Os ganhos vão muito além da mitigação dos riscos e, frequentemente, fazem com que o investimento inicial se pague ainda no primeiro ano. Vamos a eles:

1. Autoconhecimento

Pode parecer bobagem, mas, ao longo da fase de diagnóstico para adequação à LGPD, a organização, seja ela pública ou privada, passa a conhecer muito melhor seus processos e procedimentos. Dá gosto de ver a quantidade de boas práticas que já existem e podem ser replicadas horizontalmente, aproveitando aspectos que fazem parte da cultura interna e podem ser expandidos para todos os setores.

2. Agilidade nos processos

Com o mapeamento dos processos envolvendo tratamento de dados pessoais, acabamos identificando diversas oportunidades de melhoria. Focadas na operação e nas atividades do dia a dia, as organizações acabam passando anos sem revisitar seus processos. É comum identificarmos situações em que os dados dão a volta ao mundo antes de chegarem onde realmente serão utilizados. Ao longo do primeiro ciclo de adequação já é possível promover diversas melhorias cujos ganhos são perceptíveis.

Um exemplo mais comum do que se pode imaginar é a inserção de dados em uma planilha de Excel que, depois de ser encaminhada por e-mail de um setor para outro, é inserida no sistema por importação ou redigitação. Nesse processo, ficam cópias na caixa de entrada, na caixa de saída, no desktop, na nuvem e no backup, multiplicando o risco da organização, quando bastava inserir os dados diretamente no sistema, poupando tempo e evitando vulnerabilidades.

3. Economia de recursos

Aqui é onde os ganhos para as organizações são mais perceptíveis. As situações mais comuns são a economia com impressão (equipamentos, papel e tinta), com sistemas (não raro pagamos por um sistema quando já temos outro que faz a mesma coisa sem sabermos) e com locação de storages (pode não ser seu caso, mas diversas empresas alugam espaços para guardar documentos).

Muitas vezes a implementação do programa de gestão da e segurança da informação gera economia significativa com suprimentos e até mesmo com custos fixos. Não acredita? Então dá uma olhada no arquivo morto da sua organização e veja a quantidade de papel que você imprime – e guarda – sem precisar. Além de mitigar o risco em caso de incidentes com dados pessoais, você deixa de gastar dinheiro com muita coisa que não precisava.

4. Diferencial de mercado

Toda organização sai ganhando com a adequação às leis de proteção de dados, mas, dependendo da área de atuação, as empresas podem usar isso como diferencial competitivo. É o que ocorre especialmente em segmentos como saúde, financeiro, tecnologia da informação (TI), gerenciamento de recursos humanos (RH) e outros que envolvam o tratamento de dados pessoais sensíveis e/ou de um grande volume de dados.

Se a sua empresa atua como operadora (trata dados pessoais em nome de outra organização), a adequação é mais do que diferencial, é um requisito de sobrevivência. O segredo, aqui, é comunicar aos clientes potenciais o que foi feito, de forma a mostrar que a questão foi levada a sério, não se tratando apenas de um “copia e cola” para cumprir (achar/fingir que está cumprindo) tabela.

5. Ganho de reputação

A adoção de um programa sério de gestão e proteção de dados contribui para que a organização melhore sua reputação junto aos stakeholders. Isso vale em relação aos clientes, usuários dos serviços, colaboradores e à sociedade em geral. Cada vez mais a abordagem ESG ganha relevância e a LGPD está umbilicalmente ligada ao G, de governança, só para dar um exemplo. Para empresas que estão no mercado de consumo o ganho é ainda mais perceptível, pois, cada vez mais, os consumidores estão atentos aos seus direitos e enxergam com bons olhos os fornecedores que os respeitam.

Esses são apenas alguns dos ganhos decorrentes de um bom programa de gestão e proteção de dados. Quanto antes as organizações entenderem que as vantagens são muito superiores ao investimento, mais rápido colherão os frutos advindos da adequação. Mas, infelizmente, muitos ainda enxergam a LGPD como “custo”, esquecendo que todos nós somos titulares de dados pessoais e merecemos respeito.