Partnership: match entre colaboradores e empresas
Para reter seus talentos, engajar a equipe e ter crescimento acelerado em seus negócios, grandes empresas como a XP Investimentos e a Ambev apostam em um modelo de gestão que se difere das tradicionais contratações de funcionários e formações de equipe que normalmente conhecemos: o partnership.
Para quem ainda não ouviu falar nesse termo, é importante saber que ele está ganhando cada vez mais visibilidade e adesão em empresas e startups. Quando bem implementado e devidamente alinhado, é capaz de trazer benefícios e vantagens, não só para a pessoa jurídica, como também para os sócios, colaboradores e demais envolvidos no negócio.
Apesar de parecer recente, o partnership já vem sendo experimentado há anos por empresas que efetivamente estão colocando em prática o “vestir a camisa da empresa”. Afinal, mais do que se sentir pertencente à equipe de trabalho, o colaborador realmente se torna sócio do negócio em que está inserido, motivando sua permanência, dedicação e aumento na produtividade.
Esse negócio também é meu
Além de mudar a percepção do colaborador em relação a sua posição dentro da empresa, o partnership proporciona a obtenção de pequenas cotas de ações, o que lhe confere sentimento de dono do negócio e modifica a forma pela qual é remunerado.
Se nos modelos tradicionais o empregado recebe um valor fixo por mês trabalhado, independentemente do seu esforço durante esse período, a partir do momento em que se torna sócio, ele troca o salário pelo pró-labore e passa a receber lucro dos dividendos, conforme o seu percentual na empresa. Quanto mais lucro o negócio tem, mais dividendos o colaborador recebe e maior é a sua motivação para continuar desempenhando um papel que ajude a empresa a crescer e a lucrar.
Ou seja, é um modelo de gestão que, apesar de dividir espaço na composição societária, não gera resultado negativo, nem mesmo para os sócios-proprietários. Afinal, para eles é preferível ter 60% de um negócio em ampla expansão ao ter 100% de uma empresa com lenta perspectiva de crescimento.
Personalizado para sua empresa
Como se trata de uma ferramenta que impacta a forma como a empresa se estrutura, seu setor financeiro, a rotina dos colaboradores e o futuro dos negócios, o ideal é que o plano de partnership seja feito de acordo com as decisões dos sócios originais.
No entanto, algumas regras precisam estar previstas, principalmente referentes ao percentual que o “partner” obterá da sociedade, sendo comum ele receber em pequenas cotas, como 0,5%. Além disso, pode ficar estipulado que determinadas categorias de colaboradores receberão valores diferentes, de acordo com requisitos preestabelecidos no próprio contrato.
Outra possibilidade é prever um intervalo de tempo e/ou o atingimento de metas específicas que o empregado precisa cumprir antes de fazer parte da sociedade. É o que fica estipulado no chamado “vesting”, que favorece a gestão dos riscos, os propósitos de meritocracia e o engajamento de quem está começando na empresa.
Ainda, é possível que o colaborador tenha que pagar certo valor para se tornar sócio, tal como acontece com os investimentos tradicionais, porém em baixo percentual, considerando que a natureza das participações no partnership geralmente costumam ser menores.
Outras condições existem que podem - ou não, a depender dos sócios - fazer parte do contrato. Por exemplo: a cláusula de lock-up impede a venda de cotas, normalmente dos sócios-proprietários, durante certo e estipulado espaço de tempo; a cláusula de drag along obriga os sócios minoritários a vender suas cotas quando o majoritário aliena sua parte; a cláusula de tag along dá segurança aos minoritários, ao impor que suas cotas sejam vendidas pelo mesmo preço e/ou condições que a venda, feita pelo majoritário, do controle da empresa.
No fim das contas, várias são as possibilidades de se estruturar um modelo de partnership, cabendo, essa tarefa, principalmente à governança de cada empresa.
Será que é para mim?
Considerando que, em março de 2022, o número de desligamentos em empresas chegou a 1,81 milhões, segundo o Novo Caged — Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o partnership pode ser um caminho para motivar o time e para manter o seu funcionário. No entanto, não é um modelo aplicável do dia para a noite.
Aqui, a cultura de cada companhia tem um papel importante, principalmente por meio de políticas e controles internos. Com uma governança bem estruturada e contratos feitos sob medida para cada caso, os sócios proprietários podem estabelecer hábitos que façam o colaborador ter, no futuro, o sentimento de dono ao adquirir cotas da sociedade, materializando o modelo de partnership.