Por que tanto se fala sobre governança para as empresas?
O ano de 2023 começou com grandes repercussões para o mercado, os empreendedores, os investidores e demais stakeholders. Além da descoberta do rombo financeiro na Americanas, recentemente, Bento Gonçalves virou notícia em razão do resgate de 200 pessoas que realizavam trabalho análogo à escravidão na colheita de uva e no abate de frango, serviços terceirizados pelas empresas da região.
Essas duas notícias foram suficientes para desenrolar uma questão relevante sobre o tema: as pessoas sabem o que, de fato, é governança corporativa?
Do que estamos falando?
O termo “governança corporativa” se perde no meio de tantas descrições contraditórias que aparecem na internet. Perguntas como “o que isso significa” e “quais são suas verdadeiras vantagens para as empresas” são frequentes, principalmente para quem está fora da bolha corporativa.
Dessa forma, concluímos que a palavra “governança”:
- Pode assustar alguns empresários e investidores mais resistentes a mudanças;
- É irrelevante para algumas empresas de pequeno e médio porte que relacionam esse termo a multinacionais e companhias de capital aberto;
- É associada, em diversos momentos, à burocratização;
- É conceito amplo, com visões diferentes e, por vezes, contraditórias;
- Não é tão bem explicada e, por isso, poucos veem o seu valor.
Para entender o tamanho da confusão
A governança corporativa é o principal pilar da ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa), termo que, apesar de ser mais conhecido, também não é bem compreendido pelo mercado.
Nos Estados Unidos, por exemplo, um movimento anti-ESG está ganhando força e atrapalhando a captação de investimento das empresas, inclusive por meio de repreensões e de leis emitidas por algumas autoridades.
O problema é que a divergência entre anti e pró-ESG aumenta o risco das companhias, já que qualquer ação ou inércia delas pode gerar indisposição para alguma das partes, impactando a reputação e os negócios. Grandes firmas financeiras de Wall Street, como a BlackRock e a BlackStone, já estão informando, em seus balanços contábeis, que o desentendimento sobre o tema ameaça o lucro das empresas.
Voltando à questão dos termos
Tanto no caso da governança quanto em relação à ESG, o problema sobre seu entendimento pode estar na falta de comunicação. Quando falamos em governança, o que está por trás disso?
O especialista em marketing Seth Godin afirma que, quando uma pessoa compra uma broca, ela não quer o produto em si, nem o buraco na parede. O que elas querem é uma prateleira pendurada e a sensação de organização que isso gera.
Transpondo para a governança corporativa, podemos compará-la ao buraco na parede. Nesse sentido, a governança é o método pelo qual as empresas crescem, atingem um objetivo ou solucionam um problema. Como exemplo, podemos dizer que ela é o meio para o alinhamento de expectativas entre sócios, usando, para tanto, de um Acordo de Cotistas.
Seja para melhorar a avaliação da companhia, ter diligências mais ágeis, resolver conflitos entre sócios, estruturar uma sucessão familiar ou facilitar a tomada de decisões internas, por trás da governança está “alcançar o objetivo ou solucionar problemas da empresa”.
Para facilitar o entendimento
Governar significa dirigir e, da mesma forma que o condutor precisa ter habilitação para conduzir um veículo, é essencial que as empresas tenham certo nível de governança para guiar seu crescimento ou seu objetivo.
No caso de um automóvel, existem regras predefinidas, como todos usarem cinto de segurança, o caroneiro não pode dar ordens sobre a direção e assim por diante. Isso também acontece em uma empresa, já que os sócios, líderes, gestores e colaboradores precisam ter papéis definidos para atuar dentro dos limites.
Todas as companhias possuem práticas internas, sendo necessário (re)estruturá-las e transformá-las em boas práticas, a tal da governança corporativa. Essa atualização é constante, sempre visando ao objetivo almejado pela empresa naquele momento. Em analogia a um automóvel, a sua revisão deve ocorrer frequentemente, para evitar que ele pare de funcionar. Assim é com uma empresa que compete com a concorrência e o dinamismo do mercado atual.
Desmistificando inverdades
- A boa governança é essencial para a continuidade e o crescimento dos negócios, por mais que assuste empresários e investidores resistentes;
- Ela pode ser a solução dos problemas internos e o crescimento sustentável dos negócios, mesmo em empresas de pequeno e médio porte;
- Seus retornos positivos são enormes, inclusive para manter as empresas ativas. Por isso que a governança ambiental, social e corporativa (ESG) é um dos pilares mais buscados pelos investidores, mesmo sendo associada à burocratização;
- Ainda que seu conceito seja amplo, a governança se torna específica, objetiva e direta quando a empresa entende seu objetivo ou o problema interno que precisa resolver;
- Torna-se evidente que a governança gera valor aos negócios, mesmo que a longo prazo.
Por fim, vantagens:
Recentemente, fizemos um texto sobre os benefícios decorrentes da adequação da Lei Geral de Proteção de Dados nas empresas, para além da mitigação dos riscos. A governança corporativa também tem a função de reduzir riscos, porém é ainda mais sobre planejamento, estratégia, crescimento, evolução, reputação positiva, oportunidades e, principalmente, sobre o futuro dos negócios.